terça-feira, 26 de novembro de 2013

Sobre o medo, o desconhecido, e ambos


   As superstições são as regras pelas quais um grupo humano tenta criar a ilusão da previsão em um meio ambiente incerto. As regras são efetivas no controle da ansiedade; e as inúmeras regras deixam de pesar na consciência uma vez transformadas em hábito. Mesmo quando a situação real é horrível e ameaçadora, as pessoas com o tempo se adaptam e a ignoram. Além disso, há um traço perverso na natureza humana que aprecia a crueldade e o grotesco se não lhe oferecem um perigo imediato. O povo afluía às execuções públicas e fazia pique-nique à sombra do patíbulo. A vida durante os séculos XIV a XVI oferecia uma profusão de espetáculos de sofrimento e dor. (..)
   É um erro pensar que os seres humanos sempre procuram estabilidade e ordem. Qualquer um que tenha experiência sabe que a ordem é transitória. Completamente separada dos acidentes cotidianos e do peso das forças externas, sobre as quais uma pessoa tem pouco controle, a própria vida é crescimento e deterioração: é mudança, senão não é vida. Porque a mudança ocorre e é inevitável nos tornarmos ansiosos. 
   A ansiedade nos leva a procurar segurança, ou, ao contrário, aventura - ou seja, nos tornamos curiosos. O estudo do medo, por conseguinte, não está limitado ao estudo do retraimento e entrincheiramento; pelo menos implicitamente, ele também procura compreender o crescimento, a coragem e a aventura.

"Paisagens do Medo", de Yi-Fu Tuan, p. 17-18
Imagem: Capa do livro

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