terça-feira, 21 de julho de 2009

A felicidade barata

"Mortifica os pés, desgraçado, desmortifica-os depois, e aí tens a felicidade barata, ao sabor dos sapateiros e de Epicuro."

Machado de Assis em Dom Casmurro



Nunca gostamos tanto do Sol quanto em um dia nublado; da mesma maneira, acho que precisamos sentir saudades das pessoas pra que elas continuem sempre significando o mesmo tanto dentro de nós.
Ter alguém sempre lá parece muito fofo na teoria, mas na prática, é a receita para catástrofe - pelo menos pra mim. Não é que haja prazer nessa dor da saudade, mas é que só quem usou por horas um sapato apertado pode saber o que é o alívio de descalçá-los. Tá, você tem a opção de não usar um sapato apertado; mas sinto muito, jamais sentirá o prazer de tirá-lo - e está aí algo que eu acho que compensa.
Há quem diga que tudo isso não passa de frieza, de uma espécie de proteção que a gente adquire pra não se machucar. Esses, afinal, preferem sentir o prazer de se apaixonar loucamente ao custo de se desapaixonar desastrosamente a viver o insosso equilíbrio daqueles que caminham a passos mais cuidadosos. Sim, talvez só esses saibam que nirvana único é esse de se apaixonar por inteiro, se entregar ao sabor do sentimento, ainda que só por alguns dias.
No fundo, acho que todas as relações humanas são meio que jogos. Compete a cada um escolher a estratégia e o momento de agir, mas estamos todos sujeitos às mesmas regras.

João Rodrigues