sábado, 30 de maio de 2009

Às boas e às velhas novas


A vida andava cada vez mais triste desde que eu esquecera o que era viver sem novidades. Ter coisas legais é OK, mas e quanto às novas coisas legais? Será que dá pra viver só com o que eu já tinha?
Pois é. Eu lembro que na infância eu descrevia a vida como uma mochila: a gente só segue em frente se ela estiver no peso certo, e isso só ocorre se a gente der espaço pras coisas novas tirando as coisas velhas; o problema é que muitas dessas velharias eram simplesmente tudo de que eu precisava, e muitas dessas novidades não faziam mais do que me entreter - e nem só de joie de vivre vive o homem.
Daí o cara vira irremediavelmente nostálgico, desenvolve essa espécie de fobia de deixar pra trás as coisas e se dar conta de que não adianta simplesmente voltar no caminho pra buscar  aquilo que se descobriu que era imprescindível. Não tem sido difícil cruzar com gente rindo da minha mochilinha toda atulhada e rasgada desde então. Mas eu juro por esse céu como eu já vi quem não tivesse nem água no cantil nem dez passos depois.

João Rodrigues

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Eu sou mais indie que você

Acho bonitinha e saudável essa facilidade com que os adolescentes brincam com os rótulos; nem sei mais quais são os grupelhos dessa garotada de hoje, e tenho quase certeza de que passaria um belo carão citando aqui os do "meu tempo". Pouco importam os nomes, o importante mesmo é que essa fase de identificação favorece muitas trocas e facilita um pouco o questionamento de quem eu sou e qual o meu lugar.
Mas, como tudo na vida, só vale a pena se tiver começo, meio e fim. Na superfície de tudo, a consequência mais imediata disso é a segregação, algo que definitivamente não é bacana de se carregar para a vida adulta. E eis que você anda pela São Paulo do famigerado 3º milênio e encontra um bom tanto de indivíduos nos seus 20 e poucos - ou mais - que só toleram estar cercados por aqueles de mesmo "estilo" (leia-se roupas e música, no máximo, porque ideologia é algo que já morreu faz tempo). Soa como se ainda nos detivéssemos na superfície, esquecendo do básico do básico do básico das relações humanas: conhecer a pessoa, e não essa película efêmera que a recobre. Ou será que "conhecer" já virou sinônimo de "imitar"?
Nesse cotidiano já conturbado de superação do outro em que vivemos cada vez mais, chegar na fase adulta com essa mentalidade adolescente pode ser uma grande vantagem em termos de competição; mas acho que, no que toca as relações Humanas, a despeito da abrangência do termo, não damos conta de conhecer um ao outro porquanto não nos detemos no acontecimento dessa pessoa para si, diga-se, o fenômeno humano que representam as trocas, e não a simples passagem, sob o risco de nos vermos cercados de estilo, mas não de pessoas...

João Rodrigues