domingo, 7 de novembro de 2010

Água e Palavra



Água cai do olho, cai do céu, na torneira, a boca pinga, pia
Água enche o olho mas não cai quando o coração desagua
Água não existe quando o coração de pedra fala
Medra meu medo, me mata só com palavras


A palavra vem no olho, sai da boca, no ouvido a fala
A palavra enche a boca d'água quando essa palavra cala
Qualquer coisa pode ser palavra, menos a palavra amor
O amor sem palavra


O amor deságua
Água e palavra
O amor deságua
Água e palavra




Neno Miranda

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Só de Sacanagem



Meu coração está aos pulos!
Quantas vezes minha esperança será posta à prova?
Por quantas provas terá ela que passar?
Tudo isso que está aí no ar: malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro, do meu dinheiro, do nosso dinheiro que reservamos duramente pra educar os meninos mais pobres que nós, pra cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais.
Esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais.
Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta à prova?
Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?
É certo que tempos difíceis existem pra aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz.
Meu coração tá no escuro.
A luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e os justos que os precederam:
" - Não roubarás!"
" - Devolva o lápis do coleguinha!"
" - Esse apontador não é seu, minha filha!"
Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar. Até habeas-corpus preventivo, coisa da qual nunca tinha visto falar, e sobre o qual minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará.
Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear: mais honesta ainda eu vou ficar. Só de sacanagem!
Dirão:
“ - Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo o mundo rouba.”
E eu vou dizer:
”- Não importa! Será esse o meu carnaval. Vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos. Vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês. Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau.”
Dirão:
" - É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal”.
E eu direi:
” - Não admito! Minha esperança é imortal!”
E eu repito, ouviram?
IMORTAL!!!
Sei que não dá pra mudar o começo, mas, se a gente quiser, vai dar pra mudar o final.

Elisa Lucinda

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Ouvi dizer

Tem dor que dói tanto...




























...que transforma.










João Rodrigues

sábado, 5 de junho de 2010

O último discurso


            Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar – se possível – judeus, o gentio... negros... brancos.
            Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo – não para o seu infortúnio. Por que havemos de odiar e desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover a todas as nossas necessidades.
            O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos.  A cobiça envenenou a alma dos homens... levantou no mundo as muralhas do ódio... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.
            A aviação e o rádio aproximaram-nos muito mais. A própria natureza dessas coisas é um apelo eloqüente à bondade do homem... um apelo à fraternidade universal... à união de todos nós. Neste mesmo instante a minha voz chega a milhares de pessoas pelo mundo afora... milhões de desesperados, homens, mulheres, criancinhas... vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera inocentes. Aos que me podem ouvir eu digo: “Não desespereis! A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da cobiça em agonia... da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano. Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores sucumbem e o poder que do povo arrebataram há de retornar ao povo. E assim, enquanto morrem homens, a liberdade nunca perecerá.
            Soldados! Não vos entregueis a esses brutais... que vos desprezam... que vos escravizam... que arregimentam as vossas vidas... que ditam os vossos atos, as vossas idéias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como gado humano e que vos utilizam como bucha de canhão! Não sois máquina! Homens é que sois! E com o amor da humanidade em vossas almas! Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar... os que não se fazem amar e os inumanos!
            Soldados! Não batalheis pela escravidão! Lutai pela liberdade! No décimo sétimo capítulo de São Lucas está escrito que o Reino de Deus está dentro do homem – não de um só homem ou grupo de homens, ms dos homens todos! Está em vós! Vós, o povo, tendes o poder – o poder de criar máquinas. O poder de criar felicidade! Vós, o povo, tendes o poder de tornar esta vida livre e bela... de faze-la uma aventura maravilhosa. Portanto – em nome da democracia – usemos desse poder, unamo-nos todos nós. Lutemos por um mundo novo... um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.
            É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas, só mistificam! Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão! Os ditadores liberam-se, porém escravizam o povo. Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós. Soldados, em nome da democracia, unamo-nos!
            Hannah, estás me ouvindo? Onde te encontrares, levanta os olhos! Vês, Hannah? O sol vai rompendo as nuvens que se dispersam! Estamos saindo da treva para a luz! Vamos entrando num mundo novo – um mundo melhor, em que os homens estarão acima da cobiça, do ódio e da brutalidade. Ergue os olhos, Hannah! A alma do homem ganhou asas e afinal começa a voar. Voa para o arco-íris, para a luz da esperança. Ergue os olhos, Hannah! Ergue os olhos!

Charles Chaplin (em O Grande Ditador)

sábado, 22 de maio de 2010

La lumière et les yeux ouverts


Que dans ce moment-là, je voudrais être simple. Aussi simple qu'une voyelle, un numéro pair, une couleur primaire, un verre d'eau... alors, peut-être, finallement rien n'aurais plus de sens.

oJõa dsiuRoerg

terça-feira, 27 de abril de 2010

Insight #1


Lembro do dia em que quis brincar com um gatinho arisco na rua e ele fugiu de mim. Meu pai, vendo a cena, me disse que o deixasse, que ele não queria saber de gente.
Dispensável dizer que eu insisti... não é tão fácil assim convencer um fanático da seita "All the world need is love" a parar de distribuir carinho por aí.
- Deixa ele, filho!
- Mas eu quero que ele aprenda a confiar em mim!
- Certo... aí ele aprende a confiar no ser humano, e o que acontece da próxima vez que ele vir um?
- ...






Foi aí que tive o insight #1: às vezes, ser bom com alguém é o pior mal que você pode fazer por ele(a)...




João Rodrigues

domingo, 11 de abril de 2010

Coffee and TV

O inspirador do nome...




Blur - Coffe and TV



http://www.youtube.com/watch?v=GXRVX1AKAew&feature=fvst


Do you feel like a chain store
Practically floored
One of many zeros
Kicked around bored


Your ears are full but you're empty
Holding out your heart
To people who never really
Care how you are


Chorus:
So give me coffee and tv, please hurry
I've seen so much, I'm going blind
and i'm braindead virtually
Socialability is hard enough for me
Take me away from this big bad world
and agree to marry me
So we can start over again


Do you go to the country
It isn't very far
There's people there who will hurt you
'caus of who you are


Your ears are full of their language
there's wisdom there you're sure
Till the words start slurring
And you can't find the door

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

A época das flores

Os dedos se reacostumam a tatear a delicadeza das coisas macias; o paladar ainda se engana com o quase exagero de doçura, que outrora fora implorada em tudo. Recobra suas exigências, confia, chama de verdadeiro.


Bem, nada até aqui deixou de sê-lo. É apenas uma questão de se reabituar.


João Rodrigues