segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

The elemental is the beggining




Life is slow and sweet. Guess we are the ones who pass through it so fast.
For we shall know somethings are not up to us to finish, but certainly they need us - as we need them - to go on.


João Rodrigues

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

O Salto




Tudo que sabemos agora é que eu te quero, você me quer e temos todo o tempo e o espaço diante de nossos narizes para fazer disso o melhor que pudermos. Se tivermos cuidado e sorte - sobretudo, talvez, sorte - quem sabe, dê certo? Não é fácil. Tampouco impossível.
E se existe essa centelha quase palpável, essa esperança intensa que chamamos de amor, então não há nada mais sensato a fazer do que soltarmos as mãos dos trapézios, perdermos a frágil segurança de nossas solidões e nos enlaçarmos em pleno ar.
Talvez nos esborrachemos. Talvez saiamos voando. Não temos como saber se vai dar certo - o verdadeiro encontro só se dá ao tirarmos os pés do chão -, mas a vida não tem nenhum sentido se não for para dar o salto.


Antonio Prata

domingo, 25 de outubro de 2009

Deusa, mãe, esposa, irmã, amiga, amante, mulher...


Eu tinha 13 anos, em Fortaleza, quando ouvi gritos de pavor. Vinha da vizinhança, da casa de Bete, mocinha linda, que usava tranças. Levei apenas uma hora para saber o motivo. Bete fora acusada de não ser mais virgem, os irmãos a subjugavam em cima de sua estreita cama de solteira, para que o médico da família lhe enfiasse a mão enluvada entre as pernas e decretasse se tinha ou não o selo da honra. Como o lacre continuava lá, os pais respiraram, mas a Bete nunca mais foi à janela, nunca mais dançou nos bailes e acabou fugindo para o Piauí, ninguém sabe como, nem com quem.
Eu tinha apenas 14 anos, quando Maria Lúcia tentou escapar, saltando o muro alto do quintal da sua casa para se encontrar com o namorado. Agarrada pelos cabelos e dominada não conseguiu passar no exame ginecológico. O laudo médico registrou vestígios himenais dilacerados, e os pais internaram a pecadora no reformatório Bom Pastor, para se esquecer do mundo. Realmente esqueceu, morrendo tuberculosa.
Estes episódios marcaram para sempre a minha consciência e me fizeram perguntar que poder é esse que a família e os homens têm sobre o corpo das mulheres. Ontem, para mutilar, amordaçar, silenciar. Hoje, para manipular, moldar, escravizar aos estereótipos.
Todos vimos, na televisão, modelos torturados por seguidas cirurgias plásticas. Transformaram seus seios em alegorias para entrar na moda da peitaria robusta das norte-americanas. Entupiram as nádegas de silicone para se tornarem rebolativas e sensuais, garantindo bom sucesso nas passarelas do samba. Substituíram os narizes, desviaram costas, mudaram o traçado do dorso para se adaptarem à moda do momento e ficarem irresistíveis diante dos homens. E, com isso, Barbies de fancaria, provocaram em muitas outras mulheres (as baixinhas, as gordas, as de óculos) um sentimento de perda de auto-estima.
Isso, exatamente no momento em que a maioria de estudantes universitários (56%) é composta de moças. Em que mulheres se afirmam na magistratura, na pesquisa científica, na política, no jornalismo. E, no momento em que as pioneiras do feminismo passam a defender a teoria de que é preciso feminilizar o mundo e torná-lo mais distante da barbárie mercantilista e mais próximo do humanismo.
Por mim, acho que só as mulheres podem desarmar a sociedade. Até porque elas são desarmadas pela própria natureza. Nascem sem pênis, sem o poder fálico da penetração e do estupro, tão bem representado por pistolas, revólveres, flechas, espadas e punhais. Ninguém diz, de uma mulher, que ela é de espadas. Ninguém lhe dá, na primeira infância, um fuzil de plástico, como fazem os meninos, para fortalecer sua virilidade e violência. As mulheres detestam o sangue, até mesmo porque têm que derramá-lo na menstruação ou no parto. Odeiam as guerras, os exércitos regulares ou as gangues urbanas, porque lhes tiram os filhos de sua convivência e os colocam na marginalidade, na insegurança e na violência.
É preciso voltar os olhos para a população feminina como a grande articuladora da paz. E para começar, queremos pregar o respeito ao corpo da mulher. Respeito às suas pernas que têm varizes porque carregam latas d'água e trouxas de roupa. Respeito aos seus seios que perderam a firmeza porque amamentaram seus filhos ao longo dos anos. Respeito ao seu dorso que engrossou, porque elas carregam o país nas costas.
São as mulheres que irão impor um adeus às armas, quando forem ouvidas e valorizadas e puderem fazer prevalecer à ternura de suas mentes e a doçura de seus corações.

Rita Lee

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

De Mario Quintana


DAS UTOPIAS

Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos se não fora
A mágica presença das estrelas


POEMINHO DO CONTRA

Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!


A GRANDE SURPRESA

Mas que susto não irão levar essas velhas carolas se Deus existe mesmo...


DA INQUIETA ESPERANÇA

Bem sabes Tu, Senhor, que o bem melhor é aquele
Que não passa, talvez, de um desejo ilusório.
Nunca me dê o Céu... quero é sonhar com ele
Na inquietação feliz do Purgatório.


BILHETE

Se tu me amas,
ama-me baixinho.
Não o grites de cima dos telhados,
deixa em paz os passarinhos.
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho,
amada,
que a vida é breve,
e o amor
mais breve ainda.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Controle de Qualidades


Você não nasceu com a obrigação de fazer ninguém feliz. Sendo assim, não queira fazer nenhum esforço sobre-humano pra isso, porque o resultado mais provável ao longo do tempo será a mentira; se alguém se diz feliz ao seu lado, tem de sê-lo pelo que você é, não pelo que ela quer que você seja - e muito menos pelo que você quer que ela pense que você é.
Então a fórmula é bem simples: se arrancar um sorriso de alguém lhe tem exigido uma verdadeira ginástica retórica, é sinal que você já está contrariando sua natureza para mostrar a alguém algo que você simplesmente não é, e pior, talvez nunca seja. E esse é o maior perigo de qualquer forma de relacionamento entre dois humanos: um sempre espera que o outro vá mudar um dia, e no meu ver, é isso que resulta em boa parte dos "no começo você era tão diferente...". Não, não era diferente. Era um dos dois que não queria enxergar que a tal pessoa não era assim - ou que deixaria um dia de sê-lo.
Reconhecer a própria natureza humana é a única forma de reconhecer a de outrem e, quem sabe, perceber que certas coisas não são de fato aquilo que se convencionou chamar "defeitos", sem maiores questionamentos. Quanto ao que sobrar disso, sinto muito, mas quando alguém passa a fazer parte da sua vida, você adquire o pacote completo! Até aceita-se devolução, mas a troca pode ser bem demorada...

João Rodrigues

sábado, 26 de setembro de 2009

A palavra é prata


Ao longo desses anos (nem são tantos assim) conheci pouca gente que entendia o que era o silêncio. Não aquele da música dos Cranberries que é a vioência quem causa; nem aquele da omissão, nem o do fim, o do medo, nem o de um segundo antes. O silêncio sem o qual não vivo é aquele contemplativo, sereno, sem destino e, talvez por isso, sem pressa.
Um abraço silencioso me vale mais que mil gargalhadas.
E saber silenciar é sim algo cada vez mais raro, porque ninguém mais entende o que é parar pra contemplar, quando se tem só uma vida pra conhecer tantas coisas diferentes. Acabamos conhecendo algo de verdade, no final das contas?

João Rodrigues

sábado, 12 de setembro de 2009

Causa e consequência (ou What a wonderful world)

Não que eu goste de discutir (geo)política, não mesmo. Mas achei que o dia de ontem não poderia ter passado em branco, sem essa merecida "homenagem", com mais uma das minhas cenas de filme preferidas.


É, algumas coisas não se justificam; mas que elas têm uma explicação, isso sempre têm.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Saber dizer não


Tenho um certo medo deste post. Depois eu explico, porque não é esse o propósito aqui.

O que eu quero dividir é essa minha experiência com o perfeito antônimo do sim. E não é só minha: é muito comum ver gente que simplesmente não sabe dizer não.

Eu ainda estou no comecinho do processo, mas já deu pra dar ter uma sacada genial: às vezes, dizer não a alguém é o maior bem que você pode estar fazendo por esse ser. Sabe por quê? Porque negar algo significa fechar uma porta, mas sempre há outras abertas - o problema é convencer a pessoa de que alguma delas é que é a melhor. Mas isso é coisa que não cabe a nós, e sim a Chronos; nada como um dia após o outro pra gente ver que sempre acabamos trilhando o caminho que tínhamos que trilhar.

Então, se você também padece desse mal, vai esse meu conselho da lição #1: simplesmente diga o bendito do não e não fique sem dormir por causa disso. Antes, se dê o tempo de observar o desenrolar da situação e - vai por mim - será muito melhor do que se você tivesse aberto à pessoa uma porta que não a conduz aonde ela quer chegar. Uma hora ou outra você vê que a pessoa se encontrou e raramente vai se abalar em lembrar que foi por culpa sua que ela fez a melhor escolha.

João Rodrigues

sábado, 29 de agosto de 2009

Se minha vida fosse uma cena de um filme...



Escrever é mesmo a melhor forma de se expressar!
Achei hoje aquela que, pra mim, é a cena mais linda de um filme já feita - e ele é um romance estadunidense, quem diria? Tão tão linda, que não consigo contar pra ninguém sem chorar só de lembrar.
Fiquei feliz hoje em ver que alguém teve a brilhante idéia de publicar exatamente esse trecho.
Decidi fazer o mesmo.
:)

João Rodrigues

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

O gato e o aquário


Empatia, s.f. (em + pato + ia). Psicol. Projeção imaginária ou mental de um estado subjetivo, quer afetivo, quer conato ou cognitivo, nos elementos de uma obra de arte ou de um objeto natural, de modo que estes parecem imbuídos dele. Na psicanálise, estado de espírito no qual uma pessoa se identifica com outra, presumindo sentir o que está sentindo.

Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa
Encyclopaedia Britannica do Brasil - vol.2


Já se colocou no lugar de alguém antes de saber o que fazer diante de uma atitude? Levar em consideração o que motivou alguém a algo; e o que você faria no lugar dela?
Nunca sentiu que era só isso que queria que fizessem por você?
A que profundidade está o universo contido no outro para você?
E para mim?

Antipatiza.
Empatizo.
Desempate.

João Rodrigues

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Tempest


"Oh wonder! How many goodly creatures are there here!
How beautious mankind is!
Oh Brave New World that has such people in't!"
Tempest (Shakespeare)

Eu: naqueles dias de mergulhar nessa agonia que é parecer ser a única testemunha do crime mais impossível de se acreditar na galáxia. Claro que é só uma impressão, mas quem não se sente assim de vez em quando?
Me remete àquele desespero de um esquizofrênico para distinguir o que é real pro mundo e o que o é só para ele. Me faz lembrar dos chineses protestando contra os manifestantes durante as Olimpíadas. Do Bush convocando uma reunião urgente na Califórnia para cancelar todos os casamentos gays realizados, com apoio de toda aquela população. Me faz lembrar até da família da última novela das 8, se você quer saber...
O mais curioso foi voltar uns 5 anos no tempo, num consultório psiquiátrico, tentando explicar isso pr'aquela mulher.
- Eu não sei dizer. Eu tenho a impressão de que sou o único gritando numa multidão de surdos. É como se só eu enxergasse as coisas ao meu redor e isso me deixa desesperado, mas ninguém entende do que eu estou falando!
- Aaaah, não é bem assim. Você não enxerga mais do que ninguém. As pessoas simplesmente estão olhando para algo que lhes é mais interessante - por que você não experimenta? Aliás, você precisa é de sol, sabia? Um bom banho de sol num dia no parque.
Cinco anos depois, aqui estou eu... Acho que eu devia é ver mais TV e parar de me preocupar com essas bobagens...

João Rodrigues

terça-feira, 21 de julho de 2009

A felicidade barata

"Mortifica os pés, desgraçado, desmortifica-os depois, e aí tens a felicidade barata, ao sabor dos sapateiros e de Epicuro."

Machado de Assis em Dom Casmurro



Nunca gostamos tanto do Sol quanto em um dia nublado; da mesma maneira, acho que precisamos sentir saudades das pessoas pra que elas continuem sempre significando o mesmo tanto dentro de nós.
Ter alguém sempre lá parece muito fofo na teoria, mas na prática, é a receita para catástrofe - pelo menos pra mim. Não é que haja prazer nessa dor da saudade, mas é que só quem usou por horas um sapato apertado pode saber o que é o alívio de descalçá-los. Tá, você tem a opção de não usar um sapato apertado; mas sinto muito, jamais sentirá o prazer de tirá-lo - e está aí algo que eu acho que compensa.
Há quem diga que tudo isso não passa de frieza, de uma espécie de proteção que a gente adquire pra não se machucar. Esses, afinal, preferem sentir o prazer de se apaixonar loucamente ao custo de se desapaixonar desastrosamente a viver o insosso equilíbrio daqueles que caminham a passos mais cuidadosos. Sim, talvez só esses saibam que nirvana único é esse de se apaixonar por inteiro, se entregar ao sabor do sentimento, ainda que só por alguns dias.
No fundo, acho que todas as relações humanas são meio que jogos. Compete a cada um escolher a estratégia e o momento de agir, mas estamos todos sujeitos às mesmas regras.

João Rodrigues

sábado, 27 de junho de 2009

Católico Apostólico Uspiano


A Universidade, sobretudo no que concerne às ciências humanas, leva o conhecimento tão a ferro e fogo que eu ousaria chamar a ciência que produzem de uma nova religião. Digo isso sem medo por não deixar muito a desejar ao cristianismo da Idade Média, que não obstante tratar os fatos sob a ótica de uma verdade absoluta e dogmática, ainda perseguia aqueles que ousassem cogitar algum questionamento a isso.
E vejam hoje o magnífico Templo do Saber erigido às margens do Pinheiros, que tanto prima por suas idéias de democracia e respeito à pluralidade de idéias! Já não se sabe mais quem é cristão e quem é pagão dentro dos muros desse castelo, de sorte que tudo o que resta é condernarem-se à fogueira uns aos outros. Claro, respeitando-se mutuamente os diversos pontos de vista - desde que sejam iguais.
Lá do alto da torre de marfim, o Senhorio observa desdenhoso tudo aquilo que não lhe diz respeito, enquanto as massas inflamadas expressam seus anseios com toda a mesma delicadeza de um clérigo que atira a feiticeira ao fogo da redenção. Se houver algum resquício de insjustos e insjutiçados nesse amálgama, acho que isso só saberemos um dia, talvez num livro de História dita "pós-contemporânea", provavelmente intitulado "Século XXI: A neo-caça às bruxas".

João Rodrigues

sábado, 30 de maio de 2009

Às boas e às velhas novas


A vida andava cada vez mais triste desde que eu esquecera o que era viver sem novidades. Ter coisas legais é OK, mas e quanto às novas coisas legais? Será que dá pra viver só com o que eu já tinha?
Pois é. Eu lembro que na infância eu descrevia a vida como uma mochila: a gente só segue em frente se ela estiver no peso certo, e isso só ocorre se a gente der espaço pras coisas novas tirando as coisas velhas; o problema é que muitas dessas velharias eram simplesmente tudo de que eu precisava, e muitas dessas novidades não faziam mais do que me entreter - e nem só de joie de vivre vive o homem.
Daí o cara vira irremediavelmente nostálgico, desenvolve essa espécie de fobia de deixar pra trás as coisas e se dar conta de que não adianta simplesmente voltar no caminho pra buscar  aquilo que se descobriu que era imprescindível. Não tem sido difícil cruzar com gente rindo da minha mochilinha toda atulhada e rasgada desde então. Mas eu juro por esse céu como eu já vi quem não tivesse nem água no cantil nem dez passos depois.

João Rodrigues

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Eu sou mais indie que você

Acho bonitinha e saudável essa facilidade com que os adolescentes brincam com os rótulos; nem sei mais quais são os grupelhos dessa garotada de hoje, e tenho quase certeza de que passaria um belo carão citando aqui os do "meu tempo". Pouco importam os nomes, o importante mesmo é que essa fase de identificação favorece muitas trocas e facilita um pouco o questionamento de quem eu sou e qual o meu lugar.
Mas, como tudo na vida, só vale a pena se tiver começo, meio e fim. Na superfície de tudo, a consequência mais imediata disso é a segregação, algo que definitivamente não é bacana de se carregar para a vida adulta. E eis que você anda pela São Paulo do famigerado 3º milênio e encontra um bom tanto de indivíduos nos seus 20 e poucos - ou mais - que só toleram estar cercados por aqueles de mesmo "estilo" (leia-se roupas e música, no máximo, porque ideologia é algo que já morreu faz tempo). Soa como se ainda nos detivéssemos na superfície, esquecendo do básico do básico do básico das relações humanas: conhecer a pessoa, e não essa película efêmera que a recobre. Ou será que "conhecer" já virou sinônimo de "imitar"?
Nesse cotidiano já conturbado de superação do outro em que vivemos cada vez mais, chegar na fase adulta com essa mentalidade adolescente pode ser uma grande vantagem em termos de competição; mas acho que, no que toca as relações Humanas, a despeito da abrangência do termo, não damos conta de conhecer um ao outro porquanto não nos detemos no acontecimento dessa pessoa para si, diga-se, o fenômeno humano que representam as trocas, e não a simples passagem, sob o risco de nos vermos cercados de estilo, mas não de pessoas...

João Rodrigues

segunda-feira, 20 de abril de 2009

O amor que acredito


O amor que acredito:
Não prende,
não pede em troca,
não impõe condições,
não segue regras,
não tem nome.

O amor que acredito:
Liberta,
é gratuito,
é incondicional,
é espontâneo,
é apenas o que é.

Se o amor não for assim, será um mero remédio para a sua carência, um alimento para o seu ego, um apoio para a sua insegurança, mas jamais será amor.


Rafael Beckel

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Brincando

Mesmo tremendo de frio, há uma diferença fundamental entre estar próximo ao fogo e encostar nele; na primeira situação, a gente se aquece e se sente confortável; na segunda, dispensável constatar que a gente se queima. Só que mesmo assim, acho que muitas vezes o frio é tanto que a gente não percebe o quanto está tendendo para o outro extremo e, assim, lançando-se automaticamente para outro desconforto.
Mas há infinitos tons de cinza entre o preto e o branco. Por que é tão difícil se deliciar com um deles? É da natureza do ser humano só se equilibrar quando bate nos extremos?
É, o equilíbrio pode ser meio ponderado e sem graça demais às vezes, mas mesmo quem não se dá conta, vive procurando por ele - cada um do seu jeito.

João Rodrigues

quinta-feira, 12 de março de 2009

Meu poema favorito

Soneto de Fidelidade



De tudo ao meu amor serei atento

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto,

Que mesmo em face do maior encanto

Dele se encante mais meu pensamento.



Quero vivê-lo em cada vão momento

E em seu louvor, hei de espalhar meu canto

E rir meu riso, e derramar meu pranto

Ao seu pesar ou seu contentamento.



Assim, quando mais tarde me procure

Quem sabe a morte, angústia de quem vive

Quem sabe a solidão, fim de quem ama



Eu possa me dizer do amor (que tive):

Que não seja imortal, posto que é chama

Mas que seja infinito enquanto dure.




Vinícius de Moraes

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

De passagem


Acordo sento leio um jornal ouço aquela música e depois aquela outra lembro do trabalho e leio mais uma notícia que vem acompanhada de mais uma música e saio correndo pra chegar antes do horário planejado chego depois do horário planejado mas tendo ouvido pela terceira ou quarta vez aquela mesma música. Volto pra casa tomo um banho saio correndo de novo me sento inquieto por três horas volto pra casa me entretenho como posso durmo.
Acho que o problema todo é que, quanto mais desaprendo a esperar, menos sinto saudade.

João Rodrigues

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Nota preliminar sobre a Liberdade

Eram passos mais seguros, mas eram de um lado do muro onde eu não queria estar. Não que eu soubesse o que eu queria, mas ser fiel ao que sinto é o mínimo que posso esperar de mim.

Tudo o que sei hoje é que ainda não estou do lado certo; a vista é bem melhor daqui de cima.


João Rodrigues

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

A pessoa errada


Pensando bem
em tudo o que a gente vive e vivencia e ouve e pensa
não existe uma pessoa certa para nós;
existe uma pessoa que se você for parar para pensar
é, na verdade, a pessoa errada.
Porque a pessoa certa
faz tudo certinho
chega na hora certa,
fala as coisas certas,
faz as coisas certas,
mas nem sempre a gente tá precisando das coisas certas.
É a hora de procurar a pessoa errada.
A pessoa errada te faz perder a cabeça,
fazer loucuras,
perder a hora,
morrer de amor;
a pessoa errada vai ficar um dia sem te procurar,
que é para na hora que vocês se encontrarem,
a entrega ser muito mais verdadeira.
A pessoa errada é, na verdade, aquilo que a gente chama de pessoa certa.
Essa pessoa vai te fazer chorar,
mas uma hora depois vai estar enxugando suas lágrimas.
Essa pessoa vai tirar seu sono,
mas vai te dar em troca uma noite de amor inesquecível.
Essa pessoa talvez te magoe,
e depois te encha de mimos pedindo seu perdão.
Essa pessoa pode não estar 100% do tempo ao seu lado,
mas vai estar 100% da vida dela esperando você.
Vai estar o tempo todo pensando em você.
A pessoa errada tem que aparecer para todo mundo,
porque a vida não é certa.
Nada aqui é certo.
O que é certo mesmo é que temos que viver
cada momento,
cada segundo
amando, sorrindo, chorando, emocionando, pensando, agindo,
querendo, conseguindo;
E só assim,
será possível chegar aquele momento do dia
em que a gente diz: "Graças à Deus deu tudo certo",
quando, na verdade,
tudo o que ele quer
é que a gente encontre a pessoa errada
para que as coisas comecem a realmente funcionar direito para nós...

Luis Fernando Veríssimo

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Um segundo errante do tempo

Já sentiu que esqueceu de sentir saudades de algo simplesmente de tanto que sentiu?
Algo como aquela nostalgia de olhar pra infância e ver que você era tão feliz e nem imaginava. Perceber que você teve algo sem o qual sabia que jamais viveria; e de repente você estava ali sem, e vivo. Mas aí surge aquela música ou aquela foto do fundo da caixa, e Deus sabe de onde vêm também os cheiros, as sensações e, por fim, uma fagulha do tempo depois, as emoções.
Pra mim, esse é o parâmetro do quanto endurecemos.
Na falta de escolha diante da delebilidade de tudo aquilo de que muitas vezes nunca sonhei me desapegar, vai a máxima de um professor muito querido: "A mente humana foi feita para esquecer, e não para lembrar."
Graças a Deus.

João Rodrigues