"Onde você se sente mais sozinho? Em casa, longe de tudo, ou numa estação de metrô lotada?"
(de diálogo do filme "Caché" (Michael Haneke - 2005))
(de diálogo do filme "Caché" (Michael Haneke - 2005))
É parte de nossa cultura a superação do outro. Nunca enxergamos nas pessoas possibilidades, mas sempre limitações. Louco de quem tenta ajudar esse tal "outro"; o negócio é sair correndo na frente antes que ele me deixe para trás!
No ônibus, ontem, uma mulher reclamava que o motorista passara do ponto de parada; o cobrador resmungava que era o preço que ela pagava pela lerdeza para atravessar o ônibus, e praguejou repetindo-o a tudo e a todos até o final da viagem. O ônibus estava cheíssimo, como toda parte em São Paulo. Todos estavam exaustos depois de um dia de trabalho e logo todos estavam se acotovelando pra descerem primeiro no ponto final. Me atreveria a especular que ninguém chegou em casa no horário que queria nesse dia.
A sacada é que o problema do outro nunca é meu problema; eu sempre já tenho problemas o suficiente e, se eu o puder resolver às custas de aumentar o de outrém, é melhor que eu corra antes que esse outrém faça o mesmo comigo. Nesse mundo competitivo, temos que ser mais "ligeiros", porque quem não mata, morre.
E sempre o rapaz do lado é mais espertinho; sempre o garoto que esbarrou comigo na rua é um xarope que não olha por onde anda, o garçom que se atrasa é um incompetente que não sabe nem servir um suco, o motorista que passou do ponto, um cego, o professor que esqueceu-se de um termo, um dinossauro; e todos são espertinhos, todos querendo se dar bem às custas de mim - a menos que eu seja mais espertinho que eles.
E, assim como o medo da violência é justamente uma de suas maiores causas, também somos nós com nosso medo do outro; somos como cachorros arredios que, ao verem alguém estranho, se poem a latir pra provar que podem ser bem piores do que eles imaginam - quando tudo não passa de medo que alguém perceba o quão frágeis eles podem ser.
E há algo de tão vergonhoso em ser frágil?
E se todos quisessem mudar isso, quem daria o primeiro passo?
Ah, o outro?
Imaginei.
No ônibus, ontem, uma mulher reclamava que o motorista passara do ponto de parada; o cobrador resmungava que era o preço que ela pagava pela lerdeza para atravessar o ônibus, e praguejou repetindo-o a tudo e a todos até o final da viagem. O ônibus estava cheíssimo, como toda parte em São Paulo. Todos estavam exaustos depois de um dia de trabalho e logo todos estavam se acotovelando pra descerem primeiro no ponto final. Me atreveria a especular que ninguém chegou em casa no horário que queria nesse dia.
A sacada é que o problema do outro nunca é meu problema; eu sempre já tenho problemas o suficiente e, se eu o puder resolver às custas de aumentar o de outrém, é melhor que eu corra antes que esse outrém faça o mesmo comigo. Nesse mundo competitivo, temos que ser mais "ligeiros", porque quem não mata, morre.
E sempre o rapaz do lado é mais espertinho; sempre o garoto que esbarrou comigo na rua é um xarope que não olha por onde anda, o garçom que se atrasa é um incompetente que não sabe nem servir um suco, o motorista que passou do ponto, um cego, o professor que esqueceu-se de um termo, um dinossauro; e todos são espertinhos, todos querendo se dar bem às custas de mim - a menos que eu seja mais espertinho que eles.
E, assim como o medo da violência é justamente uma de suas maiores causas, também somos nós com nosso medo do outro; somos como cachorros arredios que, ao verem alguém estranho, se poem a latir pra provar que podem ser bem piores do que eles imaginam - quando tudo não passa de medo que alguém perceba o quão frágeis eles podem ser.
E há algo de tão vergonhoso em ser frágil?
E se todos quisessem mudar isso, quem daria o primeiro passo?
Ah, o outro?
Imaginei.
João Rodrigues
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