Coloco aqui pela primeira vez o texto de uma amiga que, de quebra, é uma das minhas escritoras preferidas.
Para quem gostar, existem outros textos dela, que aos poucos estarão publicados aqui também (o antigo Blog dela foi desativado).
Calou-se e, no arrependimento, sentiu-se só. A culpa lhe atormentava a alma, tormento solitário, lancinante. E o medo do medo gelou-lhe a alma...
O erro. Havia cometido de novo, mais uma vez. À culpa juntou-se o pânico. Não, não podia ter feito de novo. Não admitiria aquilo novamente. O erro.
A falta. Em desespero, buscou encontrar-se. Sentiu falta de si. Há quanto tempo estava longe? Não conseguiu lembrar. O pulso saiu de compasso. Percebia que havia se perdido há muito, e não sabia mais quem era.
O descontrole. Na ausência de si, perdeu as rédeas. Descontrolou-se, jogando sua vida e felicidade nas mãos de outros. Inventou desculpas, máscaras, criou artifícios. E, mais uma vez, sofreu.
A busca. Ciente da sua ausência, das desculpas, das fugas, das máscaras, voltou a buscar-se. Brigou consigo mesma, por vezes não aceitou o que viu, sem perceber que o que via era distorcido por um espelho imundo. Olhava em volta, buscando que lhe servissem de espelho, para não ter o esforço de limpar o próprio. Sofreu mais algumas vezes.
O encontro. No meio sofrimento, encontrou o improvável amor. Que a aceitou, amou, recebeu. O medo do medo, o espelho sujo, tudo impedia a entrega, mas ela insistiu. E uma nova luz foi jogada sobre ela.
A descoberta. Sem saber direito como ser amada, já que seu espelho era imundo, jogou no outro a responsabilidade por limpar seu espelho. Sofreu e fez sofrer. A sua dor era suportável, já havia se acostumado e chegava a pensar se sabia viver sem ela. Mas provocar dor no outro, no amado, era inaceitável, insuportável, intragável. Com tempo e esforço descobriu que precisava limpar seu espelho, encontrar-se a si, e que o outro era necessário, amado, mas nunca preencheria o buraco da ausência de si mesma.
A conciliação. Com paciência e empenho, começou a reencontrar e descobrir partes de si e montar-se. Surpreendeu-se com qualidades, e as amou. Frustrou-se com defeitos, mas os aceitou e acolheu. Assim, aos poucos, foi nascendo de novo, agora inteira, plena. As dores foram passando à medida que seu olhar sobre si ficava claro, que as culpas eram levadas juntamente com a poeira do velho espelho imundo e que as qualidades eram valorizadas. E, a cada momento da descoberta, o amor estava ao lado, mostrando, acolhendo, aceitando, apaixonado pelo processo e pela força, já que sabia que, dali, surgiria alguém mais iluminado do que antes...
O amor. O quebra-cabeça continua sendo montado. A vida toda. Muitas peças são trocadas de lugar e até jogadas fora, já que não servem mais no novo desenho que se forma, ou simplesmente para serem repostas por outras que formarão um todo mais belo. Assim como o amor, pelo outro e por si mesmo. Ele continua sendo montado, construído, descoberto, juntamente com as novas peças do quebra-cabeça. O amor é fluido, móvel, cresce e muda a cada descoberta nova, a cada tentativa, a cada peça que na vida se coloca no lugar certo. Aceita os erros, pois sabe que são tentativas, caminhos para os acertos.
O amor é processo, não situação. É preciso amar o caminho, não só a chegada. É preciso amar a construção, para que seja possível amar o construído.
Dri Quedas
PS.: Atualmente, ela conta com uma picante coluna sobre sexo Lésbico no site Dykerama!
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