A vida andava cada vez mais triste desde que eu esquecera o que era viver sem novidades. Ter coisas legais é OK, mas e quanto às novas coisas legais? Será que dá pra viver só com o que eu já tinha?
Pois é. Eu lembro que na infância eu descrevia a vida como uma mochila: a gente só segue em frente se ela estiver no peso certo, e isso só ocorre se a gente der espaço pras coisas novas tirando as coisas velhas; o problema é que muitas dessas velharias eram simplesmente tudo de que eu precisava, e muitas dessas novidades não faziam mais do que me entreter - e nem só de joie de vivre vive o homem.
Daí o cara vira irremediavelmente nostálgico, desenvolve essa espécie de fobia de deixar pra trás as coisas e se dar conta de que não adianta simplesmente voltar no caminho pra buscar aquilo que se descobriu que era imprescindível. Não tem sido difícil cruzar com gente rindo da minha mochilinha toda atulhada e rasgada desde então. Mas eu juro por esse céu como eu já vi quem não tivesse nem água no cantil nem dez passos depois.
João Rodrigues